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Semana Cultural Madeirense:

"Noite de Fado" integrada nas comemorações da cultura, música e sabores do arquipélago

Por Rómulo Ávila

Sol Português

De 21 a 29 de Abril teve lugar em Toronto mais uma edição da Semana Cultural Madeirense, certame através do qual se deram a conhecer marcas e registos da identidade do arquipélago numa iniciativa da Casa da Madeira de Toronto (CMT).

Na noite de sexta-feira (28), a sede da colectividade vestiu-se a rigor e transformou-se numa animada casa de fado onde não só se escutaram os sons da canção nacional como se cheirou e provou Portugal, com pratos característicos destes serões e onde não faltaram o chouriço, o caldo verde, o bacalhau e as bifanas.

Cantou-se, pela voz de Tony Gouveia e Jennifer Bettencourt, o sofrimento, a saudade, a felicidade, mas também o grande amor perdido e solitário, a tragédia ou até mesmo um destino cruel.

O fado é perfeito para a expressão de sentimentos profundos e para levar o público em viagens de vida, e foi isso mesmo que aconteceu através destas duas vozes muito aplaudidas pelo público e acompanhadas pelos músicos Valdemar Medjoubi na viola, Sérgio Santos no baixo e Hernâni Raposo na guitarra portuguesa.

O jornal Sol Português tem acompanhado esta Semana Cultural desde a abertura, sendo de referir que durante todos os dias em que a organização madeirense teve abertas as suas portas para o seguimento do certame a casa esteve sempre bem composta de público.

Um dia antes do serão dedicado ao fado teve lugar uma noite tradicional, com folclore e bailes regionais apresentados pelo Grupo Folclórico da Casa da Madeira.

Nessa noite, tal como na que marcaria o encerramento do certame, actuou como artista convidado João Quintino, cantor que veio especialmente da Madeira para dar a sua dinâmica a esta celebração cultural do arquipélago madeirense.

O artista, que se considera "o vocalista das comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo", expressou à nossa reportagem o prazer que sentia em participar nesta comemoração.

"Cantar na noite regional e no encerramento desta Semana Cultural é muito gratificante. Estar aqui nesta grande semana de cultura e costumes da Madeira é, por um lado, uma honra, mas também uma responsabilidade, pois aqui está tudo o que nosso arquipélago tem de melhor", realçou.

João Quintino, que se desloca à volta do mundo para cantar para as comunidades madeirenses na diáspora, considerou "muito importante manter as tradições vivas" e referiu que este certame "é uma excelente forma de ligar quem aqui está à sua terra natal, fazendo com que a saudade passe mais despercebida".

E a música "é um importante elo de ligação para isso mesmo", salientou.

Esta Semana Cultural organizada pela CMT só viria a terminar no sábado (29), com a celebração do aniversário da colectividade e a actuação dos artistas João Quintino e Décio Gonçalves, mas Luís Bettencourt, que preside ao clube madeirense, ainda na sexta-feira e em declarações ao nosso jornal retomou as declarações que nos havia feito por ocasião da abertura e caracterizou esta "montra madeirense" como "um sucesso".

"Apostou-se muito na gastronomia e nas tradições musicais e podemos dizer que correu tudo bem; fizemos o nosso melhor trabalho e tivemos muita gente a passar no nosso espaço", afirmou, acrescentando só ter faltado "respirar o ar da Madeira no Canadá".

Também José Rodrigues, presidente da Assembleia-Geral da CMT e conselheiro das Comunidades Madeirenses, se mostrou satisfeito com os resultados da iniciativa deste ano, retomada pela primeira vez desde a interrupção provocada pela pandemia de covid-19.

"Tudo tem ocorrido mais ou menos dentro da nossa expectativa", referiu, lembrando que "após um interregno de três anos por causa da pandemia", voltar a reunir a família madeirense em Toronto foi uma felicidade, ainda que nem sempre seja fácil, pois "há sempre algumas arestas por limar".

"Queremos sempre fazer algo diferente, mas este ano não foi possível trazer grandes novidades", comentou, acrescentando esperar "que numa próxima Semana Cultural" possam vir a apresentar "algo diferente, algo que chame mais a nossa comunidade, quer a madeirense, quer a de outras regiões de Portugal".

Sobre o futuro, e sabendo que está marcada uma Assembleia-Geral de sócios para breve e face ao anúncio da possível saída de Luís Bettencourt da presidência do Executivo, José Rodrigues diz à nossa reportagem que tudo fará para "manter a CMT de portas abertas e com grande relevo na comunidade".

"Neste momento vou cumprir com aquilo que os sócios quiseram, ou seja, um mandato de dois anos que só termina em 2024. Não quero, neste momento de festa e de cultura madeirense, falar muito acerca da situação que atravessamos, embora saibamos que não é das mais agradáveis. Contudo, isto acontece um pouco por toda a comunidade portuguesa", refere peremptoriamente.

"A Casa da Madeira orgulha-nos e está bem de saúde", garante, mas isso não significa que se possa descurar a sua gestão e ignorar a realidade.

"É preciso gente nova, gente com disponibilidade, gente com novas ideias. Com a direcção ou com um grupo de sócios, com uma comissão de gestão ou com uma Direcção eleita, a Casa da Madeira de Toronto, por mim, vai ter futuro, e um futuro risonho com todos, os que aqui estão, os que aqui já passaram e os que a nós se quiserem juntar", garantiu.

O também conselheiro das Comunidades Madeirenses no Canadá frisou ainda que a CMT tem um importante património para gerir, talvez "o maior que existe na comunidade portuguesa aqui a residir" e que é preciso preservar.

"O nosso património cultural e material por ser grande e vasto não pode ser nunca comprometido, mas é preciso pessoas para o gerir. Vamos procurar soluções alternativas para que não nos afundemos, porque há trabalho, há muitos sacrifícios de fundadores que não pode ser deixado em vão", recordou.

"Sozinho não sou o salvador do mundo e tenho de contar com o apoio dos associados da CMT. Precisamos de pessoas que queiram assumir por inteiro a responsabilidade, mas que saibam o valor e a importância daquilo que nós temos neste país", concluiu.


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