PENA & LÁPIS


Mudança é algo que necessito sentir e criar

Por Idalina da Silva

Sol Português

Esta semana tenho pensado muito sobre o conceito de "mudança" – mudança pessoal, geográfica, de trabalho, de residência, de hábitos e de costumes.

Muitas vezes ouvimos dizer que nós, os seres humanos, não gostamos de mudanças, mas comigo isso não é verdade. Mudança é algo que eu necessito de sentir. Estimula a minha criatividade, vontade de ser e de fazer, enfim... completa-me a nível pessoal.

Sempre achei profundamente injusto não poder viver várias vidas em diferentes locais do mundo, em vez de apenas estar onde estou. Talvez isso se deva ao meu espírito de aventureira, que me tem levado a lugares que eu jamais tinha pensado poder visitar e onde adoro conviver com os habitantes locais, aprender sobre os seus usos e costumes, diferentes gastronomias e religiões. Em suma: conhecer as suas histórias como seres humanos.

Gosto de morar em Toronto, já me acostumei; não é que alguma vez me apaixonasse pela cidade, mas enfim, por agora a minha casa é aqui. Mas adorava morar em Miami, em South Beach, à beira-mar em Barcelona, numa casa na Toscana ou dirigir uma caravana (motorhome) pela Austrália. Passar uns tempos aqui, outros ali.

Hoje em dia não sou muito de viajar e sair para passar férias solo. Gosto de ter uma base. Não pretendo viver todas essas vidas ao mesmo tempo. Vivê-las todas em simultâneo já foi uma oportunidade que o meu espírito e o meu entendimento enriqueceram em todos os sentidos, por isso estou reconhecida ao Criador e ao universo.

Como viajar nos dias de hoje não faz parte dos meus planos – quando os pais estão na casa dos 90 anos, deixá-los para ir-mos à procura de novas aventuras não é recomendável, especialmente quando somos filhos únicos (não quer dizer que não o faça um dia) – visito sites por todo o mundo e imagino essas vidas simultâneas.

O Google Streetview ajuda imenso. Posso verificar se eu vivesse aqui ou ali, onde faria compras, onde jantaria fora, onde levaria o Casey a passear e encontrar amigos. Infelizmente, as leis da física e a falta de tempo livre significam que continuarei a fazer este meu estranho hobby na internet, mas continuo a desejar fazer mudanças na minha vida diária.

Não desejo nem me dá prazer ir às compras como antes. Já não tenho paciência para experimentar roupa. Todo o movimento de vestir-me e despir-me faz-me suar e fico exausta. A meu ver pessoal, é uma perda de tempo.

Sei o que quero e faço de descobrir onde encontrar o que quero, sem saltar de loja em loja, uma missão. Com os sites de moda que há aos montes, sempre se encontra algo de que se goste. Pode não servir, mas há sempre uma forma de arranjar solução.

Nunca me decidi por um penteado durante muito tempo, estou sempre a redecorar esta ou aquela peça que tenho há anos, a replantar canteiros de flores ou a renovar os móveis.

Algumas pessoas vêem isso como loucura – "porque não fazer uma coisa uma vez e fica para sempre, assim sempre pode ter mais tempo para se divertir?". Consigo ver o ponto de vista delas, mas permanecer sempre igual, no mesmo sítio, ir sempre ao mesmo restaurante... não é uma opção para mim.

Esta busca constante por algo novo também está presente nos meus trabalhos artísticos e no que eu escrevo. Não me consigo contentar em aprender a fazer uma coisa e fazê-la para sempre. Na verdade, assim que algo começa a conquistar o público e a gerar vendas confiáveis, entrego-me a novas ideias, a uma nova aventura.

Gostava de saber se isso faz parte de ser artista? – como alguns me chamam. Pessoalmente, acho que todos nós nascemos com espírito de artista, cumprindo ou não esse papel. Nascemos com essa atracção criativa, esse desejo de deixar a nossa marca de alguma forma, e talvez não possamos ter essa inclinação sem termos também as outras coisas que vêm com esse desejo.

Eu acho que a arte é um caminho a ser seguido. Acho que, como artistas, devemos mudar as coisas, desenvolver ideias, expressar sentimentos e dar origem à transformação. Pode ser apenas a transformação de um momento no tempo, mas ainda assim é uma transformação.

Acho que iluminamos o caminho para os outros, mostrando o que é possível, se levar-mos uma vida criativa, cheia de curiosidade e admiração. E se eu estiver certa, é claro que também seremos almas inquietas doutras maneiras.

Claro que estaremos constantemente a criar ideias e a pensar como é que as coisas podem ser melhores. E isso fez-me pensar: quem for como eu, provavelmente está cercado de pessoas que não pensam da mesma forma.

Essas pessoas não vêem as possibilidades ou não conseguem ver o valor em correr atrás dessas possibilidades. Podem não valorizar a imaginação. Algumas podem até provocar-nos por causa das nossas obsessões, da nossa necessidade de tentarmos constantemente coisas novas ou pela maneira como mudamos de ideias cinco ou 10 vezes antes de nos decidirmos por algo que queremos fazer.

Na realidade, estas pessoas não conseguem ver as dezenas de possibilidades que nós vemos e é por isso que acham mais fácil tomarem as decisões "certinhas"!

Levei muito tempo até perceber que tudo o que é bom e diferente pode ser um pouco estranho. Na verdade, é mais do que apenas normal. É algo para termos orgulho.

Então, sim, quero seguir em frente constantemente e fazer algo diferente, dentro das minhas capacidades e possibilidades. E sim, eu entendo que isso torna-me um pouco diferente da maioria das pessoas ao meu redor. Alguém até me chama de cigana, mas não, eu não vou mudar.


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