Em louvor de Portugal
Por José Ribeiro de Sousa
Que doce encanto o teu ó minha Terra!
Eu quisera cantar-te um carme eterno
e nele pôr todo o amor que o peito encerra!
Que falasse do tempo antigo e do hodierno,
da Terra e Mar em rota à Boa Esperança
que foi esteira de sonhos, céu e inferno.
E ainda no berço de criança
e nele – da santa diva, minha Mãe
que em trovas de embalar me fez confiança!
Quem me dera ter estro, ser alguém
para de viva voz sem par cantar-te!
Quem fora magnitude e sons do além
para em rajadas épicas louvar-te!
Ser turbulência que enche as vagas
para te mostrar bem alto em toda a parte!
Pigmeu-gigante que na história apagas
dia a dia, da Terra a velha extrema,
arando o chão das ondas em mil sagas!
Cada estrela foi bússula serena
e facho aceso em ânsia de glória,
génio da raça que deixou a avena
e se fez grande em marcos de vitória
plantados pelos que foram – e pela mágoa
de quem ficou em espera meritória!
Dormiste a campina, o monte, a frágua,
desceste o rio e entraste pelo mar
que te abismou da imensidão da água!
Depois veio o luar a espreitar
casais perdidos do alto à deveza,
- e Portugal é terra do luar!
Vem do pinhal embalo, aroma e beleza!
Chama-te o mar saudoso da aventura!
E logo a serra de mãos postas reza!
Terra que a aurora célere procura
beijando de oiro encosta, pico e vale,
num halo inebriante de frescura!
Terra onde o sol-pôr não tem rival
- halo de anil e sangue que se esfuma
na linha do horizonte de água e sal!
Pátria dos longes de silêncio e bruma,
terra do amor e da saudade useira,
da madressilva em flor, da sumaúma!
Bendita ó minha Terra ímpar, trigueira!
Terra da Virgem! Que ela te abençoe
e guie na traça antiga – a verdadeira!
Costa, 1938
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