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Presidente da Câmara de Toronto demite-se após admitir relacionamento com ex-funcionária

O presidente da Câmara de Toronto, John Tory, chamou os jornalistas ao final da tarde de sexta-feira (10) para anunciar que se iria demitir do cargo, admitindo ter tido "uma relação amorosa com uma ex-funcionária" afecta ao seu gabinete.

A admissão e subsequente pedido de demissão do cargo para o qual tinha sido eleito pela terceira vez a 24 de Outubro do último ano, surge depois da publicação de uma notícia no jornal Toronto Star sobre o seu alegado relacionamento com uma ex-funcionária do município, de 31 anos, que não foi identificada.

Na conferência de imprensa no final da semana, o edil assumiu o caso, que diz ter ocorrido "durante a pandemia de covid-19" e terminado no início deste ano, de forma amigável e por consentimento mútuo.

A situação "não respeitou, de todo, os padrões pelos quais me considero como presidente e como homem de família", disse John Tory.

O autarca, que é casado desde 1978 com Barbara Hackett e tem 68 anos, disse ainda reconhecer que permitir que esse relacionamento se desenvolvesse foi um grave erro da sua parte e que por isso deixava "o cargo de presidente para poder reflectir" sobre eles.

John Tory indicou considerar ser agora seu dever comprometer-se em fazer o que for necessário para reparar os seus relacionamentos pessoais.

"Sinto muito e peço desculpa, sem reservas, ao povo de Toronto e a todos os lesados pelas minhas acções, incluindo à minha equipa, aos meus colegas da Câmara Municipal e a todo o sector público por quem tenho tanto respeito", acrescentou Tory.

"Acima de tudo, peço desculpas à minha esposa Barbara e a toda a minha família, a quem decepcionei mais do que a qualquer outra pessoa", concluiu o ainda detentor do poder municipal em Toronto.

Embora não hajam regras ou leis que proíbam os relacionamentos românticos e mutuamente consensuais no local de trabalho, desde que ambas as partes sejam adultas, a situação pode complicar-se quando uma delas ocupa uma posição superior e em que potencialmente tem poder sobre a outra.

De acordo com os estatutos da autarquia de Toronto, face à demissão do presidente do município, cabe ao Conselho Municipal aprovar um decreto para aprovar a realização duma eleição intercalar, o que deve ser feito no prazo de 60 dias a contar da data da demissão.

Seguir-se-á a confirmação da data para a apresentação de candidaturas, que terá que ser entre 30 a 60 dias após a declaração, e, por fim, marcada a data da eleição que deverá ocorrer 45 dias após a apresentação das candidaturas.

No entretanto, a situação permaneceu extremamente volátil uma vez que John Tory não apresentou de imediato o pedido formal de demissão, que se esperava fosse oficializado logo na segunda-feira (13), e continuou a desempenhar funções ocupando o lugar de presidente da Câmara enquanto decorriam os debates respeitantes à aprovação do Orçamento Municipal para 2023.

Em consequência, a reunião da Assembleia Municipal foi interrompida quarta-feira (15) por vários elementos do público que protestavam contra o edil, obrigando à intervenção dos seguranças para os retiraram do hemiciclo.

Uma vez aprovado o orçamento, porém, John Tory apresentou formalmente o pedido de demissão na manhã de ontem, quinta-feira (16), pondo cobro à especulação de que pudesse vir a reconsiderar a sua decisão e permanecer em funções.

Várias entidades políticas e civis, incluindo o primeiro-ministro do Ontário, Doug Ford, entre outros, tinham apelado ao edil para não se demitir, justificando que foi uma indiscrição do foro pessoal e não profissional, e que a sua saída neste momento irá deixar a autarquia numa situação complicada, além dos milhões de dólares que terão de ser gastos para proceder a eleições.

Os próprios cidadãos de Toronto pareciam divididos com respeito ao assunto já que numa sondagem realizada pela empresa Forum Resarch 45 por cento dos inquiridos indicaram que John Tory deveria continuar no cargo, enquanto que 43 por cento expressaram opinião contrária.

As últimas eleições municipais foram há apenas quatro meses, altura em que John Tory foi reeleito por esmagadora maioria, com 62 por cento dos votos, muito à frente do segundo candidato, Gil Penalosa, que apenas conseguiu 17,85 por cento da votação.

A vice-presidente da autarquia, Jennifer McKelvie, assumirá interinamente as funções de presidente, até à realização de eleições intercalares.

– VE/RA


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