ENTREVISTA


Ana Bailão em entrevista:

"Precisamos de construir mais habitação e tornar a vida mais acessível para todos", diz candidata à presidência da Câmara Municipal de Toronto

Livro preferido: "Uma boa biografia!"

Comida preferida: "Bacalhau com Natas."

Lema de vida: "Como dizia a minha avó: nunca te esqueças de onde vieste e trata o próximo como gostarias de ser tratada."

Nos tempos livres gosta de: "Caminhar."

Quando pensa em Portugal, pensa em:
"Família, no calor, em resiliência, na cultura fantástica e na comida."

Quando pensa em Toronto, pensa em: "Oportunidade."

Por Rómulo Ávila

Sol Português

Sol Português: "Sou um produto da Comunidade Portuguesa" é uma frase sua. O que quer dizer? Conta com a comunidade portuguesa?

Ana Bailão: Digo sempre: "nunca se esqueça de onde veio". Cresci em Portugal e vim para o Canadá com 15 anos. Ser parte da comunidade portuguesa tem sido extremamente significativo ao longo da minha vida e é tão bom sê-lo. Anseio com entusiasmo por um envolvimento ainda maior com a comunidade portuguesa nesta cidade nos próximos dois meses enquanto concorro para a presidência da Câmara Municipal.

SP: Que motivos a levam a candidatar-se?

AB: Adoro esta cidade. A minha família mudou-se e escolheu Toronto para viver quando eu tinha apenas 15 anos, porque era uma cidade de oportunidades, uma cidade onde os serviços públicos funcionavam bem para os residentes. Desde ser nova nesta cidade e ter de aprender inglês, com as dificuldades de qualquer emigrante, até estar ao serviço da minha comunidade em Davenport durante os 12 anos em que fui vereadora municipal, cinco dos quais na posição de vice-presidente (da Câmara) e presidente da pasta da Habitação e Planeamento Urbano. Tenho a experiência e o plano de que Toronto precisa. Lembro-me de trabalhar em part-time, aos 15 anos, no centro da cidade e andar de metro com a minha mãe a horas tardias. Sentíamo-nos seguras e sentíamos que a cidade nos servia bem. Mas não é o que agora ouço as pessoas dizerem.

A pandemia deu uma reviravolta nas nossas vidas e não é surpresa nenhuma que ampliou muito as dificuldades que a cidade enfrenta. Podemos fazer melhor e temos de fazer melhor. Podemos melhorar os serviços e podemos construir mais habitação. São coisas que irão melhorar a nossa vida e torná-la mais acessível. Os residentes da nossa cidade actualmente pagam mais e recebem menos. Precisamos de uma presidente da Câmara que esteja absolutamente concentrada em garantir que serviços como o TTC [transportes públicos] sejam seguros, fiáveis, limpos e convenientes.

SP: Tem repetido que as palavras "experiência" e "conhecimento" estão do lado da sua candidatura. A que se refere?

AB: A nossa cidade precisa de um líder com a experiência e o objectivo de trabalhar no que é preciso e prioritário. Serei uma presidente da Câmara que trabalhará com todos os membros da Assembleia, com todos os níveis de governo e com os líderes comunitários para dar a Toronto aquilo que é necessário.

SP: A democracia respira bem em Toronto, notando-se isso no número de candidatos que concorrem nesta eleição. Qual a sua perspectiva?

AB: São dezenas de pessoas a candidatarem-se à presidência da Câmara de Toronto e isto reflecte a saúde da nossa democracia, o entusiasmo das pessoas e a grande vontade de participação. Estou ansiosa por me envolver ao longo dos próximos meses com os residentes de todas as zonas e recantos da cidade para partilhar com eles o meu plano.

SP: Para além dos motivos já evidenciados por si, gostaria que explicasse o seu pensamento e as suas soluções para a resolução do problema da segurança em Toronto.

AB: A semana passada eu apresentei o meu plano de segurança pública: redistribuir imediatamente e contratar mais funcionários para o TTC para que haja mais vigilância nas estações e plataformas de metro por toda a cidade; introduzir serviço de rede telefónica na rede do TTC, colocando as operadoras Bell, Rogers e Telus de sobre aviso; inverter todos os cortes feitos aos serviços de transportes públicos e aumentar os horários de limpeza em todas as estações; expandir o Toronto Community Crisis Service de forma a cobrir a cidade inteira, ligando indivíduos em crise a profissionais de saúde mental; e introduzir Clínicas Móveis de Saúde Mental que trabalham com parceiros do sector da saúde em bairros prioritários e nas estações.

Além disso, também apoio as acções tomadas pela Polícia de Segurança Pública ao redistribuir mais guardas pela rede de transportes públicos quando necessário e os esforços em curso para expandir o Neighbourhood Community Officer Program e resolver o tempo de espera pela linha de urgências 911.

SP: "Temos de recolocar Toronto no centro do desenvolvimento do Canadá" é outra frase sua. O que defende em relação a isso?

AB: Precisamos de construir mais habitação e tornar a vida mais acessível para todos. Eu sou a favor de transferir o Ontario Science Centre para o Ontario Place. Sou a favor de ceder o parque de estacionamento e os terrenos para além da ravina onde o Ontario Science Centre está actualmente para a construção de 5.000 novas habitações, 1.500 das quais acessíveis. Transformar o edifício do Science Centre num Centro Comunitário é também um objectivo.

Numa altura em que os serviços públicos precisam de ser melhorados, a segurança tem de ser priorizada e é preciso construir mais habitação, gastar 500 milhões de dólares dos contribuintes para subsidiar um Spa privado como o governo provincial propõe não é o que os residentes de Toronto querem ou precisam.


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