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"É tudo em louvor do Divino Espírito Santo"

Casal imigrante recria em Hamilton tradições açorianas ligadas ao culto do DES

Por Rómulo Ávila

Sol Português

É certo que o segundo domingo da Páscoa, designado liturgicamente como Domingo da Divina Misericórdia, marca o arranque das Festas do Divino Espírito Santo nos Açores, altura em que as insígnias – coroa, ceptro e bandeira – percorrem as casas das famílias que as recebem com grande amor, devoção e inspiração.

Cá – em terras canadianas – como lá, onde há um açoriano há também a presença de uma fé inabalável no Espírito Santo. Cá, como lá, juntam-se os familiares e os amigos, todos os dias, e na presença da "pombinha" rezam o terço e entoam cânticos de glória e de louvor.

Os festejos culminam com o jantar das tradicionais sopas do Espírito Santo, a cerimónia da coroação e a entrega à próxima família, que a recebe de braços abertos.

Durante o fim-de-semana, sábado (15) e domingo (16), em Hamilton, o jornal Sol Português acompanhou os festejos e a promessa do casal Paulo e Cidália Ferreira que, abrindo as portas do seu coração, mas também as portas da sua casa, receberam ao longo da sua "dominga" (como são chamadas as semanas de oração e de promessa) várias dezenas de visitantes.

Destaque sobretudo para o jantar de sábado, onde o casal ofereceu a quem por ali passou o tradicional manjar do Divino, estimando-se que mais de uma centena de pessoas passaram pelas mesas sempre postas e recheadas.

Nesse dia, tal como nos outros, houve marcas açorianas bem presentes, destacando-se os cantares e a presença da Folia de Hamilton, cujos elementos deram as boas-vindas a todos e fizeram cânticos de improviso em agradecimento e evocação à família, mas também, olhos nos olhos, ao Espírito Santo, ao qual dedicaram quadras "de amor e de devoção".

Visivelmente emocionado, o casal Ferreira, acompanhado pelas duas filhas – Sabrina e Salina – agradeceu aos familiares e amigos "por toda a colaboração nestes dias de festa, mas também de trabalho", confessando à nossa reportagem sentir que "depois do Espírito Santo sair, a casa fica vazia".

"Tivemos o Senhor, também por causa dos anos de pandemia, durante três anos na nossa casa. Vamos sentir a falta Dele. Mas Ele parte com o dever cumprido, vai fazer feliz outra família que precisa Dele e vai continuar sempre ao nosso lado, a toda a hora", diz-nos Cidália Ferreira, num misto de alegria e tristeza.

Nestas festas, os irmãos juntam-se; os de Paulo e os de Cidália, de mãos dadas, rezam, mas também unem as mãos quando toca ao trabalho e à ajuda.

Para além destes, a "irmã de coração", a amiga Carla, chega-se ao tacho; e Simão manda sentar toda a gente, "para que se sirvam as sopas e a carne quente".

Depois do repasto, a folia toca e canta, ora modas tradicionais açorianas, ora canções dedicadas ao Espírito Santo.

Aqui, e pela noite dentro, "a malta toda canta, e até o padre da Paróquia de Hamilton, David Ávila, ajuda e junta-se à festa" – ele que, como nos dizem, tem raízes em São Roque do Pico, nos Açores.

A concluir, é justo dizer que o casal Paulo e Cidália Ferreira, os "donos" desta coroa do Espírito Santo, num gesto carregado de emoção e de alegria, brindaram este ano os seus primos, recentemente chegados dos Açores, convidando-os a coroar os filhos: a Maria Inês, de 10 anos, e o Afonso, de 6.

Cá, um pouco por todo o Canadá, onde há uma bandeira dos Açores, há também um culto e uma fé ao "sopro do Espírito Santo", Ele que, como afirmou o Papa e Santo João Paulo II, é sempre uma "nova Primavera para a Igreja".

Também o Papa Francisco sublinhou, recentemente, que a celebração do Pentecostes representa "o antídoto para o frenesim do mundo de hoje. É o momento de dizer: vem, vem Espírito Santo, vem; aquece o meu coração".

Há quem não acredite, é um facto, no poder da Igreja e dos Santos, mas o "poder do Espírito Santo move montanhas e nunca é colocado em causa. É respeitado. É uma força acima de tudo o resto".


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