1ª PÁGINA


Presidente da Conferência Episcopal alerta que não se pode pactuar com situações de abuso na Igreja

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou quinta-feira (20) em Fátima que "não se pode passar ao lado nem encobrir, por comodidade ou conivência" os casos de abuso sexual na Igreja.

Na homilia da missa em que a Igreja pediu perdão "profundo, sincero e humilde" às vítimas de abuso no seu seio, José Ornelas foi claro: "não se pode pactuar com situações e atitudes que comprometam, deste modo, a vida de pessoas inocentes".

"A `tolerância zero', de que fala o Papa Francisco, exprime esse compromisso fundamental para com a vida e a justiça, em favor dos que foram iniquamente delas privados", afirmou o também bispo de Leiria-Fátima.

Recorrendo ao Evangelho de ontem, que descreve "o olhar atento de Jesus que se dirige, antes de mais, aos `pequeninos'", José Ornelas disse, perante o episcopado e muitos padres, que "quem é pequeno precisa desse olhar atento, verdadeiro e carinhoso, como do pão para a boca, para crescer livre e feliz".

"Este olhar, manifestado e ensinado por Jesus, como base do relacionamento autenticamente humano, faz
entender a enormidade destruidora da violência e do
abuso das crianças e dos mais débeis, exactamente nos lugares onde era suposto estar patente a atitude contrária que é fonte de vida, de liberdade e confiança", sublinhou
o prelado, para quem é necessário que se entenda "a absoluta necessidade de se colocar, antes de mais e acima de tudo, ao lado de quem sofre esta devastadora realidade".

Defendendo que "também aqueles que causaram estes males precisam de ser libertados dessas atitudes que os despersonalizam", o presidente da CEP, acrescentando que "a busca de clareza e de justiça deve incluir os que praticam o mal, pois a misericórdia de Deus é para todos".

"Hoje, como bispos da Igreja em Portugal, queremos dizer àquelas e aqueles que sofreram estes abusos, antes de mais, uma palavra de reiterado pedido de perdão (…). Isso significa identificação e reconhecimento do mal que vos foi imposto, de forma injusta e abusiva e no ambiente onde menos deveria ter acontecido. Essa dor é também a nossa e continuará a doer enquanto a vossa não for curada", afirmou José Ornelas.

Para o bispo, esta é, no entanto, "uma dor que (…) acorda, (…) motiva e (…) abre humildemente a ir ao vosso encontro, a escutar o que é incómodo, a reconhecer a dor e a procurar partilhá-la e, na medida do possível, aliviá-la e colaborar, por todos os meios, na libertação daqueles que foram tão dramaticamente afectados."

"Gostaríamos que, assim como experimentastes essas injustiças no seio da Igreja, possais fazer a experiência de irmãos e irmãs que querem ajudar a sarar feridas e a abrir caminhos de futuro. Foi com esse intento que empreendemos este caminho que entra agora numa nova fase. Estamos a criar condições para que esse encontro seguro e transformador seja possível. É convosco, e na medida do vosso desejo, que queremos empreender um caminho de reparação e de superação das dificuldades", assegurou Ornelas.

O bispo garantiu, ainda, que "a Igreja não pode voltar atrás neste caminho", um "caminho para além da dor, da justa revolta e da injustiça".

Nesta eucaristia, em que participaram 32 bispos, a Oração Universal lembrou também as "pessoas que foram vítimas de qualquer espécie de abusos, para que encontrem em Cristo ressuscitado a cura das suas feridas e a coragem para uma vida nova", bem como os "familiares e amigos que acompanham as vítimas de abusos, para que sejam uma presença de conforto e de ambiente seguro, e ajudem na recuperação da dignidade humana".

Igreja pede em Fátima "profundo, sincero e humilde" perdão às vítimas de abuso

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, apresentou quinta-feira (20), em Fátima, em nome da Igreja, "um profundo, sincero e humilde pedido de perdão" às vítimas de abusos em ambiente eclesial.

"Hoje, aqui na Cova da Iria, em Fátima, na conclusão de uma Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, reunimo-nos, os bispos e todos os cristãos que quiseram e puderam, para celebrar a Eucaristia, tendo especialmente presente as pessoas que foram vítimas de abusos sexuais, de poder e consciência na Igreja", afirmou o prelado no início da celebração.

Segundo José Ornelas, esta cerimónia é feita em "sentido de penitência humilde, de solidariedade e proximidade cristã com aquelas e aqueles que sofreram e sofrem, vítimas de comportamentos completamente iníquos, cruéis e manipuladores, por vezes disfarçados de atenção, afecto e até de motivação religiosa".

"Como Igreja que somos assumimos a dor, a perturbação e a revolta dessas pessoas, tanto das que tiveram a coragem dolorosa de reagir e denunciar, como daquelas que se calam, ainda na incapacidade de falar dessa realidade que lhes barrou o caminho de uma vida mais feliz", afirmou o também bispo de Leiria-Fátima.

O presidente da CEP reconheceu, também, que "em muitas ocasiões", a Igreja não foi capaz "de tomar consciência e de velar como devíamos, para evitar estes abusos e para lidar com a gravidade das ofensas que foram feitas".

"No início desta eucaristia reconhecemos que estes comportamentos são exactamente o inverso daquilo que somos e que celebramos. Por isso, imploramos o perdão de Deus que pediu aos seus discípulos que fossem misericordiosos e cuidadores, particularmente para com os mais pequenos e frágeis. Reconhecemos e apresentamos, a cada um e a cada uma daqueles e daquelas que sofreram estes abusos em ambiente eclesial, um profundo, sincero e humilde pedido de perdão, em nome da Igreja na qual eles confiaram e onde sofreram tão injusta e perturbadora violência", disse José Ornelas.

"Pedimos perdão e pedimos igualmente a força, a coerência e a determinação de tudo fazer para que as pessoas que sofreram tão injustamente possam ter condições de superar os dramas que lhes foram infligidos, recuperar a estabilidade e a esperança na vida", sublinhou o bispo, pedindo ainda "o perdão de Deus", para que os membros eclesiais possam "construir e reconstruir, a nível pessoal e como Igreja, um caminho de verdadeira vida".

A missa, que decorreu na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, inseriu-se no Dia Nacional de Oração pelas vítimas de abuso no seio da Igreja e marcou o final de quatro dias de trabalhos da Conferência Episcopal, que desde segunda-feira esteve reunida em Assembleia Plenária.

JLG/SR // JMR | Lusa


Voltar a Sol Português