PENA & LÁPIS


Folhetim:

O Chantagista

– Capítulo IV

Por Jorge Moreira Leonardo

Sol Português

A Polícia Judiciária chegou cerca de uma hora depois e tiveram de lhe bater no vidro do carro, pois entretanto adormecera. Pediu desculpas, que o inspector Soares respondeu não serem devidas e que lhe apresentou o ajudante Silva.

Além da viatura que os transportou, veio também uma ambulância com os respectivos enfermeiros-maqueiros. Repetiu o que já tinha transmitido ao agente da PSP e quando o inspector lhe perguntou se conhecia a vítima, respondeu que nunca trocara com ele uma única palavra, mas sabia que ele estava hospedado numa casa um pouco mais à frente, propriedade de uma viúva.

Aconselhou, porém, que não tentassem contactá-la àquela hora, pois era conhecida da vizinhança a grande estima entre os dois e como a senhora já era de idade avançada, era expectável algum desenlace grave. Já bastava que ela pela manhã desse pela ausência dele.

Informou que a vítima tinha um irmão, de nome José Santos Pereira, que era funcionário da Repartição de Finanças.

Agradeceram a colaboração e os alertas em relação à proprietária e dispensaram-no, mas dizendo que era possível que voltassem a contactá-lo. Ele manifestou a sua disponibilidade mas disse que pouco mais teria a acrescentar. Entretanto a ambulância partiu com destino à Morgue, transportando o cadáver.

Consultado o sistema informático, conseguiram a morada do irmão. Dirigiram-se lá logo de manhã e foram atendidos pela esposa. Identificaram-se e pediram para falar com o marido. Ela convidou-os a entrar para uma sala e pouco depois apareceu não só o marido, bem como o que eles entenderam ser toda a família.

Informaram que o assunto era delicado e que preferiam falar só com o marido. Tiveram a sensação de que os parentes se afastaram, mas ficaram em situação de ouvir a conversa.

Começou o inspector por informar do assassínio do irmão e pediu-lhe que o acompanhasse à morgue para identificação do cadáver. Foi evidente alguma indiferença perante a notícia, mas prontificou-se a acompanhar o Inspector.

Chegados à Morgue, não hesitou em confirmar que se tratava do irmão. O inspector informou-o que a identificação era apenas o princípio de um interrogatório e que teria de acontecer o mais breve possível. Respondeu que precisava de obter licença do chefe para se ausentar, o que seria fácil de obter face às trágicas circunstâncias.

Entretanto o inspector cruzou-se com a psicóloga encarregada de comunicar a notícia à proprietária da hospedaria, que ficou em estado de choque. A psicóloga só se afastou quando duas vizinhas se comprometeram a fazer-lhe companhia e a proceder à solução dos problemas da hospedaria.

Lembraram-lhe a urgência de ver o quarto da vítima e ela sugeriu que era melhor acompanhá-los, pois era possível que o estado de choque ainda persistisse.

Lá chegados, a psicóloga dirigiu-se à velhota dizendo que aqueles senhores precisavam visitar o quarto da vítima. Ela limitou-se a voltar a cabeça para o lugar onde se encontravam as chaves. Era evidente que não se encontrava em condições de ser sujeita a um interrogatório.

(Continua na próxima edição)


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