PENA & LÁPIS


Em vésperas de visitar Portugal:

Lula da Silva condena União Europeia considerando-a ter "intervenção directa na guerra" na Ucrânia

Por Idalina da Silva

Sol Português

O Presidente brasileiro Lula da Silva não devia ir a Portugal e muito menos estar presente na Assembleia da República depois de ter voltado a acusar os Estados Unidos e a União Europeia de prolongarem a guerra na Ucrânia.

A meu ver, são posições que não andam de mão dada com a diplomacia portuguesa e as suas declarações podem criar dificuldade e um problema complicado para o governo, para o Presidente da República e para o presidente da Assembleia da República.

Os comentários de Lula, proferidos no domingo (16) à noite no programa "O Princípio da Incerteza", transmitido na CNN Portugal, justificaria, só por si, uma demarcação por parte do governo português ou do Presidente da República.

Quando primeiro li que o Presidente Lula iria a Portugal e que havia a possibilidade de vir a discursar durante a cerimónia solene da comemoração do 25 de Abril, fiquei com grandes reticências quanto à recepção. Agora, há um conjunto de novas razões para a pôr em causa e acho que devia de haver uma demarcação clara por parte do governo português ou do Presidente em relação às declarações de Lula.

No domingo, durante uma visita aos Emirados Árabes Unidos, Lula da Silva reafirmou as acusações aos Estados Unidos da América e à União Europeia de prolongarem a guerra na Ucrânia.

"A Europa e os EUA continuam a contribuir para a continuação da guerra. Portanto, têm de se sentar à volta da mesa e dizer `basta'", disse o Presidente do Brasil.

A sua visita a Portugal na próxima semana, com passagem pela Assembleia da República, gerou grande polémica e parece agora que não virá a acontecer. Mas uma das coisas que me incomoda – e desculpem o meu desabafo, mas que me expliquem por favor – é qual o motivo porque Lula foi convidado para estar presente durante a cerimónia que Portugal e os portugueses celebram no aniversário da "Revolução dos Cravos"? O convite vai certamente criar um problema complicado ao governo português.

Ao acusar Portugal de estar em guerra e de fomentar a guerra na Ucrânia, Lula da Silva certamente não se sentirá bem entre os portugueses e o governo português. A posição portuguesa de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia devia de ser reafirmada.

Lula afirmou que a UE, a NATO e os EUA estão a estimular a guerra, que "a Ucrânia deve perder a Crimeia" e que "o Presidente Zelensky é responsável pelo conflito". É fácil ver que a sua directriz política está bem alinhada com a Rússia e a China. Certamente que é necessário, por várias razões, ter muita calma nesta hora. Porém, não se pode desperdiçar o tempo de agir e esquecer que com os seus comentários Lula da Silva deitou mais achas para a fogueira.

De acordo com o politólogo José Filipe Pinto, numa conversa no programa Rádio Observador, o momento é de agitação política.

"Muitos portugueses acham inadmissível que Lula da Silva tivesse responsabilizado os EUA, a NATO e a UE pela continuação do conflito, uma forma de desafiar a actual ordem mundial. Depois de Bolsonaro, temos agora Lula da Silva, popular sócio económico. Portugal está no lado da história e neste momento o Brasil está no outro lado da história", afirmou o politólogo.


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