PORTUGAL EM FOCO


Parque Laudato Si, um "oásis de tranquilidade" em plena cidade de Lisboa

Por João Luís Gomes (texto) e António Cotrim (fotos)

Agência Lusa

Em plena cidade de Lisboa, perto de locais de grandes aglomerações, existe um "oásis" de tranquilidade, preparado para o descanso, usufruto da natureza ou reflexão sobre a necessidade de "cuidar da Casa Comum", respondendo ao apelo do Papa Francisco.

Trata-se do Parque Laudato Si, criado no complexo do Convento da Luz, na freguesia de Carnide, aproveitando o jardim secular do antigo palácio neoclássico mandado construir em 1878 por Jacinto José de Oliveira e que os frades da Ordem Franciscana adquiriram em 1939.

Com árvores centenárias, desde Dezembro de 2022 que o espaço está transformado num parque inspirado na encíclica "Laudato Si", do Papa Francisco, na qual são feitos alertas para os efeitos do aquecimento global na vida dos mais pobres e apelos a que "a humanidade tome consciência da necessidade de mudar modos de vida, produção e consumo" para o combater.

No texto, Francisco critica também, entre muitas outras ideias, um sistema económico que aposta na mecanização para reduzir custos de produção e faz com que "o ser humano se vire contra si próprio", defendendo que o valor do trabalho tem de ser respeitado numa "ecologia integral".

O parque, "com inspiração do Papa Francisco, que também se inspira em São Francisco de Assis, concretamente no Cântico das Criaturas, o que faz é o convite aos leitores, quer do poema de Francisco de Assis, quer do Francisco de Roma, do Papa (…). Esta encíclica, no fundo, traz para o nosso tempo esta inspiração que Francisco de Assis nos convida a sintonizar, a encontrarmo-nos verdadeiramente com todos os seres, com toda a realidade", explica frei Hermínio Araújo, um dos responsáveis e dinamizador de actividade no parque.

Para este franciscano de 52 anos, nascido na arquidiocese de Braga e actualmente integrando a comunidade franciscana de Varatojo, Torres Vedras, o que se faz no parque do Convento da Luz "não é apenas uma experiência unicamente religiosa (…). Propomos uma experiência espiritual. E esta é a parte mais significativa, para crentes e não crentes, para gente da ciência, por exemplo, para gente com preocupações ambientais".

Segundo o religioso, "a experiência espiritual é, essencialmente, a relação da pessoa com ela, com os outros, com tudo, com todos e, se é crente, com Deus", sublinhando que ali se pode praticar "um exercício dos sentidos".

Todo o contacto com o parque, onde existem um pequeno lago, uma réplica de gruta com uma imagem de Nossa Senhora, bancos em pequenos recantos para a leitura ou a reflexão – que pode ser orientada por pequenas citações da Laudato Si inscritas em placas distribuídas pelo espaço – permite às pessoas "não pensarem apenas na natureza, nas criaturas, no criador, nos problemas ambientais, teoricamente ou sentados no gabinete".

"É um espaço privilegiado no meio da cidade de Lisboa, é um oásis no meio de um deserto. Com as correrias do nosso dia a dia, às vezes nem temos tempo para parar, para pensar, para sintonizar até connosco próprios", avisa frei Hermínio, para quem é necessário haver consciência de que o cuidar da Casa Comum deve começar no cuidado de cada um por si próprio.

"Nós somos também esta Casa Comum e, às vezes, na azáfama, no cansaço, na falta de atenção do nosso dia a dia, no stress do dia a dia, é importante termos espaços de paragem", sublinha.

Para frei Hermínio Araújo, que já viveu na comunidade do Convento da Luz, o parque está aberto a crentes de todas as religiões, bem como a não crentes.

É um espaço "não só de ecumenismo, porque quando nós dizemos ecumenismo é da aproximação entre as igrejas cristãs, mas é também de diálogo inter-religioso (…), e mesmo um espaço intercultural das diferentes tradições, diferentes culturas, diferentes sensibilidades", afirma.

Quanto à população da freguesia de Carnide, frei Hermínio frisa que "a comunidade conhece o convento já há muito tempo".

"Já estamos aqui há muitas décadas e muitas pessoas conhecem já este espaço. Ainda não o conhecem, certamente a maioria, para esta actividade [da meditação e do usufruto do Parque Laudato Si], porque começou há pouco tempo. É uma oferta que os franciscanos aqui têm, sobretudo a dois níveis: um tipo de actividade está sobretudo ligado aos nossos irmãos da Ordem Franciscana Secular que trabalham neste espaço, mais em termos quase de formação, de contacto até com algumas fontes de reflexão, como o caso da Encíclica (…)", explica.

"Os outros tipos de actividade, que eu tenho desenvolvido mais, têm a ver mais com a dimensão contemplativa. Aí, já não trabalho fundamentalmente a inteligência racional, mas mais a inteligência emocional e a inteligência espiritual", afirma o frade franciscano.

Também os jovens vão ter oportunidade de experimentar as actividades no Parque Laudato Si no período até à Jornada Mundial da Juventude.

O espaço vai ser aproveitado, "mas nós sabemos que a Jornada Mundial da Juventude é ponto de chegada de uma caminhada que já se tem vindo a fazer. Dentro de dias, eu tenho aqui um grupo e outros que, entretanto, vão aparecer, e depois vão participar na jornada", diz frei Hermínio,
para quem é essencial perceber o que "fazer na pós-jornada".

"Precisava, não apenas nestes dias mais próximos da jornada, chamar a atenção até para isto, para a importância do auto cuidado que pode ser feito a partir, por exemplo, da meditação contemplativa, muito em contacto com estes ambientes", conclui.

O parque pode ser visitado diariamente, entre as 09:00 e as 18:00, e as visitas, individuais ou em grupo, devem ser marcadas através do número de telefone 217140515. Todos os primeiros sábados de cada mês, há actividade a partir das 15:00.


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