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Medicina Chinesa, aposta da Universidade de Macau, "vai levar tempo" a afirmar-se – vice-reitor

Por Catarina Domingues (texto)
e Gonçalo Lobo Pinheiro (foto)

Agência Lusa

O vice-reitor da Universidade de Macau (UM) Rui Martins considera que a internacionalização da Medicina Tradicional Chinesa, uma das apostas do estabelecimento de ensino, "vai levar algum tempo", pela dificuldade em competir com a indústria farmacêutica.

"A indústria farmacêutica está muito avançada e esses produtos chineses estão agora a aparecer e a ser comercializados e, portanto, vão levar algum tempo a afirmarem-se", disse em entrevista à Lusa o vice-reitor para os Assuntos Globais.

O responsável admitiu que os "produtos naturais" utilizados pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC) "poderão levar mais tempo a ser efectivos do que os produtos químicos", o que pode contribuir para a dificuldade de consolidação do sector.

Além disso, referiu, outro dos obstáculos é o desconhecimento geral da prática: "No ocidente, o que eles consideram medicina chinesa é acupunctura".

O Ministério da Ciência e Tecnologia chinês aprovou, em 2011, a criação do Laboratório de referência do Estado para investigação de qualidade em medicina chinesa, coordenado em conjunto pela UM e pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, com a "ideia de internacionalizar a medicina chinesa", explicou o responsável.

"O que se está a fazer é um bocado inovador, mas eu creio que ainda vai levar algum tempo, porque os investimentos aqui são grandes nessa área, mas os investimentos na industria farmacêutica normal são brutais", referiu.

A MTC é uma das apostas para Macau com vista a diversificar a economia do território, profundamente dependente das receitas do jogo. Além do laboratório de Estado, são vários os projectos pensados para dar forma a esta aspiração, nomeadamente a criação, em 2011, do Parque científico e industrial de medicina tradicional chinesa para a cooperação entre Guangdong_Macau, estabelecido em Hengqin, ilha adjacente à região administrativa especial.

Macau, frisou Rui Martins, "é um dos sítios mais avançados no mundo" no que diz respeito à investigação na área.

Ao nível de resultados, o vice-reitor mencionou "um suplemento de alimentação baseado em plantas chinesas" para combater a doença de Parkinson, desenvolvido pela UM e que a portuguesa TechnoPhage "está a tentar comercializar".

O director executivo da TechnoPhage, Miguel Garcia, disse em Dezembro à Lusa que a empresa de biotecnologia se encontrava "nos últimos passos" dos ensaios de toxicidade da molécula.

A farmacêutica está já a "desenvolver um dossier para poder avançar do ponto de vista regulamentar" para o registo como suplemento alimentar "na Europa e depois talvez nos Estados Unidos", explicou Garcia.

O empresário sublinhou que os resultados dos ensaios de eficácia da molécula, feitos em animais, no laboratório do professor da Universidade de Macau Simon Lee Ming Yuen, "são muito promissores".

Os testes mostraram que pode reduzir a perda de memória e de controlo dos movimentos, sintomas da "degeneração neurocognitiva" causada não apenas pela doença de Parkinson, mas também pela doença de Alzheimer, disse, por sua vez, à Lusa Simon Lee.

A molécula foi isolada a partir da "alpinia oxyphylla", uma pequena fruta semelhante ao gengibre, que é usada "não apenas na medicina tradicional chinesa, mas também, sobretudo no sul, em Guangdong, como parte de terapia alimentar", notou Lee.


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