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Tributo a Fernando Maurício em "Grande Noite de Fado" na CAT

Espectáculo na Casa do Alentejo de Toronto com artistas vindos de Portugal prestou também reconhecimento a fadistas da comunidade

Por Rómulo Ávila

Sol Português

A Casa do Alentejo de Toronto (CAT) engalanou-se a preceito para acolher uma "Grande Noite de Fado", evento que teve lugar no passado sábado (20), inserido nas comemorações dos 70 anos da chegada oficial dos primeiros imigrantes portugueses ao Canadá.

O espectáculo, que trouxe ao Canadá três fadistas de renome vindos de Portugal: Pedro Galveias, José Geadas e Miguel Ramos, pretendeu igualmente prestar tributo a Fernando Maurício, considerado uma das maiores vozes da canção nacional e distinguido sobretudo pelo seu amor pelo chamado "fado castiço".

Laurentino Esteves, relações públicas da colectividade alentejana, pronunciou-se em nome do presidente do executivo da CAT, Jaime Nascimento, e na tarefa de mestre-de-cerimónias deu as boas-vindas ao público que cerca das 20h00 já desfrutava de um jantar característico dos convívios fadistas, incluindo chouriço assado, caldo-verde e bacalhau.

Mais tarde e perante a sala cheia, Pedro Galveias, José Geadas e Miguel Ramos brindaram o público que ali os acolheu calorosamente, interpretando uma cuidada selecção de fados tradicionais, temas originais e clássicos do castiço fadista Fernando Maurício, falecido em 2003 e em cuja memória a noite era dedicada.

Para quem não conhece, Fernando da Silva Maurício nasceu a 21 de Novembro de 1933 na Rua do Capelão, no coração do tradicional Bairro da Mouraria, e tornou-se num fadista de renome.

Detentor de uma voz genuína e arreigado às suas raízes lisboetas, foi considerado por muitos especialistas como o maior fadista da sua geração, sendo vários os temas que celebrizou, entre eles o clássico "Igreja de Santo Estêvão".

Ao longo da sua carreira foi alvo de várias homenagens, sendo de destacar, na década de `80, a inauguração de uma lápide na Rua do Capelão pela fadista Amália Rodrigues, a assinalar o local onde nasceu, e em 2014, nas proximidades desta, na rua da Guia, de um busto em bronze do fadista, da autoria do escultor José Carlos Almeida.

A 10 de Maio de 2001, no Coliseu dos Recreios, foi agraciado pessoalmente pelo Presidente da República com o grau de Comendador da Ordem do Mérito e, mais recentemente, em homenagem póstuma em Setembro de 2014, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou por unanimidade atribuir o seu nome a um largo da Mouraria, bairro onde cresceu e despontou musicalmente.

No decorrer do serão de fado na CAT, e para além da homenagem ao falecido fadista e das brilhantes interpretações dos três artistas vindos de Lisboa, destaque para uma surpresa que fez jus ao sentido do momento.

Um a um, foram chamados ao palco quatro fadistas locais que habitualmente marcam muitas das festas portuguesas no Canadá, nomeadamente Tony Gouveia, conhecido pela sua versatilidade musical, Teresa Vieira Santos, João Brito e Luís Ferraz.

Os artistas subiram ao palco e interpretaram um fado à sua escolha no que o fadista Pedro Galveias elogiou como um "reconhecimento claro do que de bom se faz por cá (…), de quem, no Canadá, também ergue alto a bandeira nacional verde e vermelha".

Nesta que foi a sua primeira actuação no Canadá, Pedro Galveias viria a confessar à nossa reportagem no final do espectáculo que "a noite foi memorável, o público fantástico e a alegria contagiante".

"Sentimos que o calor na sala foi em crescendo e isso também nos fez crescer em palco. Já me tinham dito, e agora senti: esta é uma das melhores comunidades portuguesas do mundo", afirmou.

José Geadas, que se encontrava pela segunda vez em terras canadianas, reforçou as afirmações do colega, adiantando sentir que "cada palavra que aqui é dita ou cantada tem mais impacto, tem mais sabor, cheira a saudade, cheira a Portugal".

Como ressalvou, "aqui há gente que deixou um país, mas que vive com o coração em Portugal" e que "através do fado faz uma viagem às suas raízes".

Também Miguel Ramos admitiu estar "muito feliz" com esta deslocação a Toronto, pois "os aplausos do público são fonte de vida e aqui foram muito sentidos", referiu, elogiando esta realização pelas homenagens que foram prestadas nessa noite.

Em declarações ao jornal Sol Português, o fadista admitiu sentir-se "emocionado em poder cantar e falar da figura extraordinária que foi o fadista Fernando Maurício", mas também pelo reconhecimento que viu ser dado nessa noite aos artistas locais.

"Homenageámos artistas de grande qualidade que estão junto da comunidade todos os dias do ano e acho que este intercâmbio deveria continuar, pois é positivo para todos", destacou, considerando os colegas luso-canadianos "maravilhosos" e de "imenso talento" e colocando-se ao dispor para futuras iniciativas.

"Por nós, e sempre que o fado nos guiar, estaremos disponíveis para cantar Portugal, para cantar a alegria e a saudade de um povo", afirmou.

A noite terminou com quadras populares cantadas e a promessa de, ainda este ano, se voltar a repetir uma grande noite de fados na CAT, colectividade que é parte integrante da ACAPO – Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário.


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