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Casa das Beiras de Toronto:

23 anos dedicados à preservação da cultura beirã

Por Rómulo Ávila

Sol Português

A Casa das Beiras de Toronto (CBT) comemorou 23 anos de existência no passado sábado (21), uma noite especial para este centro cultural beirão e à qual não faltaram convidados de honra e muita animação.

A efeméride foi celebrada no Centro Cultural Português de Mississauga e ficou marcada por uma homenagem póstuma a António Almeida Henriques, que foi durante vários mandatos presidente da Câmara Municipal de Viseu, até ao seu falecimento em 2021, com 59 anos, vítima da covid-19.

Como seria referido nessa noite, o ex-autarca deixou imensas saudades junto da comunidade luso-canadiana – onde se deslocou várias vezes – especialmente dos que têm raízes naquela região de Portugal.

Com a entoação dos hinos nacionais de Portugal e do Canadá, coube a Tânia Barbosa dar início ao serão que prometia ser longo.

Logo depois Katia Karamujo, presidente do Conselho de Presidentes da Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário (ACAPO), subiu ao palco para dar início às celebrações oficiais, confessando-se uma apaixonada pela gastronomia e cultura beirãs.

No seu papel de mestre-de-cerimónias para essa noite, traçou um pouco do percurso cívico, pessoal e político do homenageado antes de passar a palavra a palavra ao presidente da colectividade aniversariante, Bernardino Nascimento.

Este por sua vez, num discurso dirigido às mais de 600 pessoas presentes no encontro, reconheceu tratar-se de "uma noite de emoção", dada não só a efeméride mas também o homenageado que estavam ali para reconhecer.

"É uma noite em que queremos homenagear uma pessoa que nunca se esqueceu de nós", destacou Bernardino Nascimento, indicando pretenderem por isso "recordar todos os contributos de um grande homem (…) um dos nossos", que "fez questão de vir juntos de nós, ouvindo-nos e apoiando-nos".

"O seu projecto de vida era Viseu e por isso a sua partida foi também muito sentida entre nós", afirmou, motivo porque "o reconhecimento do seu trabalho e a sua memória será bem preservada" também na CBT.

Após um momento de silêncio, seguindo de fortes aplausos, procedeu-se então à entrega de uma placa evocativa deste reconhecimento à esposa do falecido, Cristina Almeida Henriques, que aqui se deslocou e que se encontrava acompanhada pela filha, Beatriz.

Numa declaração emocionada, a esposa do ex-presidente da Câmara de Viseu agradeceu "a grandeza do gesto da Casa das Beiras" e considerou que o momento "lhe trazia imensa dor e muitas saudades", mas que apesar disso estava ali "de coração cheio", por se encontrar entre conterrâneos que, tal como António Henriques, amam a sua terra natal.

"O meu marido era de facto um apaixonado pela sua terra e pelas suas gentes, inclusive os que aqui vivem", destacou a convidada, lembrando que "quando cá vinha, chegava-me a dizer que ninguém no mundo projecta mais a nossa terra do que os nossos emigrantes".

Escutar-se-iam ainda mais dois discursos de entidades políticas, uma canadiana e a outra portuguesa, a começar pela deputada federal Julie Dzerowicz que numa declaração feita inteiramente na língua de Camões caracterizou os 23 anos da CBT como sendo "cheios de sucessos e de muita alegria".

A parlamentar canadiana considerou
importante fazerem-se "sempre homenagens justas" como forma de reconhecer o trabalho de quem contribui para a edificação de instituições e da sociedade, desejando ainda "muitas felicidades e muita vida a esta Casa das Beiras que, sendo portuguesa, mostra a força que Portugal tem no Canadá".

A última intervenção antes de se cantarem os parabéns à colectividade coube a José Cesário, ex-secretário de Estado das Comunidades que, quer nesse cargo, quer como representante do Partido Social Democrata, tem sido presença assídua em muitas realizações da comunidade portuguesa no Canadá, incluindo da CBT, da qual é sócio honorário.

Na sua alocução José Cesário fez questão de destacar que continua a manter-se em contacto com a comunidade lusa, referindo recentes reuniões de trabalho na Casa do Benfica, na Casa da Madeira, Casa do Alentejo e na Casa dos Açores, e diz ter-se encontrado também com a nova cônsul-geral de Portugal de Toronto a propósito das queixas relativas ao deficiente funcionamento daquele posto consular e alegada falta de atenção do governo da República pelas comunidades.

A respeito das comemorações que nessa noite se assinalavam, José Cesário falou de um trabalho "de dedicação e empenho de todos directores" ao longo dos 23 anos de história e de existência da CBT, e referiu ainda que o homenageado "era um companheiro de luta e de trabalho, um homem que via na comunidade gente de muito valor, apaixonada pela sua terra" natal.

Depois dos discursos, da homenagem e com o jantar praticamente a terminar, eis que surgem então em palco os elementos da Karma Band, conjunto musical bem conhecido da comunidade luso-canadiana e que abriu o espectáculo com uma selecção de temas ao gosto do público.

O serão, porém, estava apenas a começar já que o cabeça de cartaz para essa noite, António Manuel Neves Ferrão, mais conhecido pelo nome artístico Toy, estava ainda para actual.

Vindo de Portugal, o artista constituiu-se como o centro das atenções, divertindo o público com a interpretação de temas que popularizou durante a sua já longa carreira musical e que lhe valeram inúmeros fãs em Portugal e na diáspora.

No final da noite Sol Português teve oportunidade de conversar com Toy que depois do longo interregno provocado
pela covid-19 voltou aos espectáculos e
nos confessou ter já saudades de cantar
para a comunidade emigrante, que caracteriza como "os verda-
deiros embaixadores da cultura e da música portuguesa".

Toy espera que surjam mais espectáculos em 2023 e faz votos de que "a pandemia que afectou gravemente os trabalhos e a vida de muitos artistas, desapareça e nos faça viver e sorrir livremente, com muita música, muita alegria e muita convivência social", concluiu.


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