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Casa do Alentejo assinalou 49 anos da "Revolução dos Cravos"

Por Rómulo Ávila

Sol Português

"Hoje e sempre temos de lembrar as portas que Abril abriu", foi frase que deu mote e motivo para o serão que terça-feira (25) se realizou na Casa do Alentejo de Toronto (CAT), dedicado ao debate e à evocação dos ideais do golpe de estado que em 1974 alterou o rumo político de Portugal.

Perante uma sala cheia para reflectir e falar de Liberdade, Laurentino Esteves, relação públicas da agremiação alentejana, declarou aberto o serão que pretendeu celebrar o movimento político, militar e social ocorrido a 25 de Abril de 1974 e que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933.

A chamada "revolução dos cravos" pôs em movimento um processo que viria a terminar com a adopção de um regime de governação democrático e a entrada em vigor, dois anos depois, duma nova Constituição, celebrada a 25 de Abril de 1976.

No decorrer deste encontro e logo após o jantar, o educador e cientista social Abel Nunes, orador convidado para o colóquio deste ano, fez um retrato do sentimento que se vivia antes da "madrugada de 25 Abril de 1974, quando as forças militares ocuparam pontos estratégicos em Lisboa e derrubaram a ditadura do Estado Novo, implantada também por militares em 1926".

Como afirmou: "se não fossem os militares, o povo nunca se organizava; foi assim naquela altura e hoje seria igual".

No decorrer da sua alocução, o orador também se debruçou sobre "o que falta cumprir, o que falta fazer e de que forma os ideais da Liberdade e da Democracia ainda têm um longo caminho a percorrer".

Posteriormente e em declarações ao jornal Sol Português, Abel Nunes foi claro na sua avaliação dos resultados do golpe de estado e da evolução do país.

"Todos pensámos que depois de Abril nos íamos aproximar a vários níveis da média europeia, contudo, se demos alguns passos, e bons, no sector educativo, a economia e o rendimento das pessoas estão longe do que é preciso e estamos na cauda da Europa. Até parece que, olhando à nossa condição geográfica, ficaremos sempre na cauda de tudo e de todos", referiu.

"Continuamos a sair do país. Se virmos os números de agora, vemos que é mais ou menos a mesma média da década de `60. Agora há uma diferença: saímos de Portugal com mais qualificações e por isso não vamos para as limpezas ou construção, mas continuamos a sair desenfreadamente de Portugal, procurando melhor vida, porque Portugal paga mal. E paga mal porque não pensou no seu modelo económico, esbanjou pessimamente tudo o que a Europa lhe foi dando", considerou o orador convidado para esta sessão promovida pela CAT.

Para o educador social, a educação em Portugal avançou mais rapidamente do que a economia.

"Temos péssimos salários, não conseguimos gerar riqueza e não conseguimos atrair investimento estrangeiro", referiu.

"Esta foi, em 1974, a madrugada da vida de Portugal", como refere a propósito da revolução, mas actualmente Abel Nunes vê com grande preocupação a ascendência dos extremos políticos, quer da direita, quer da esquerda, por considerar que "colocam em causa os ideais de liberdade, de igualdade, e, muitas vezes, da verdadeira democracia".

Na sua avaliação, estes extremos "também sobem porque os actuais governantes desiludem nas suas actuações e na sua apatia em resolver os problemas que dizem directamente respeito às comunidades de cada país".

Já sobre a juventude, considera que "hoje em dia, muitos dos jovens nem sabem exactamente o que aconteceu" no 25 de Abril.

"Até percebo que eles têm alguma razão, pois não há esperança em Portugal e perderam talvez a motivação de continuar a celebrar Abril", opinou.

O resto do serão dedicado à celebração, em Toronto, do Dia da Liberdade de Portugal, prosseguiu com um espectáculo musical composto mairitariamente por cantigas de intervenção alusivas à revolução.

Para isso esteve em palco Pedro Joel, cantor luso-canadiano que foi acompanhado em alguns dos temas por Pedro Mendes na guitarra portuguesa.

O evento contou com a presença de Jaime Nascimento, presidente da CAT; José Pedro Ferreira, coordenador do Ensino da Língua Portuguesa, Camões P.P. Instituto da Cooperação e da Língua; e de Katia Karamujo, presidente do Conselho de Presidentes da Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário (ACAPO).

No rescaldo do encontro, poder-se-á comentar, como alguém já o fez, que a revolução de Abril de 1974 não deve ficar confinada a um momento no tempo e que, para que os seus ideais se cumpram, é necessária uma acção permanente e constante para bem de todos e da nação.

Citando Pedro Barroso, cantautor de intervenção: "Tanto tempo sofri por tudo o que não disse (...) / Ei-la que chegou, a Liberdade / Que vejo eu ... agora / É preciso voltar a combater pela verdade / É preciso voltar a perceber o que é a unidade / Quando um povo se ergue e perguntar: Como é? / Certamente, alguém vai tremer / É preciso é unir esse povo e ousar lutar e ousar vencer / E lembrarmo-nos de novo, e sempre, que há tanta coisa por fazer".


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