PENA & LÁPIS


Tensões perigosas

Por Inácio Natividade

Sol Português

Estamos quase no fim de Abril e o sol continua tímido, como uma virgem envergonhada a esconder os seus dotes mais preciosos. A luz e a penumbra continuam na flor de desejos, na ânsia de colher frutos maduros que apenas o Verão nos proporciona.

Aprecio a Primavera com a diversidade natural de cores de flores perfumadas, a inspirar poetas e escritores e até mesmo soldados revolucionários que levaram a mudança e a ruptura política com o paradigma dominante de então em Portugal.

A Primavera permite o calcorrear de livros e jornais ao ar livre, assim como aproveitar o esplendor da relva e ensaiar a escrita. Sou um liberal e nunca libertino, e se, por vezes, desatino com a caneta, é apenas um manifesto contra o puritanismo bacoco e inculto.

O 25 de Abril em Portugal foi obra também de jovens africanos nacionalistas, que beberam madrugadas de livros proibidos, contribuindo para a mudança de regime em Portugal.

Cada revolução tem a sua particularidade e propósito, e no contexto geral enquadra-se num projecto global de mudança de mentalidades em que o inovar quase sempre é o epicentro. Não foi a democracia a vencer, mas a necessidade de mudança a prevalecer. Alimentar esta narrativa poderá soar a ingratidão a certos quadrantes ideológicos, contudo permite expressar a assunção de que os verdadeiros protagonistas são, por vezes, os mais esquecidos. A democracia faz tempo que é trazida ao colo e ainda não se sabe o que é, nem onde vai dar.

O mundo necessita de paz urgente ou vai implodir. Vencemos a covid e ficamos longamente à espera do horizonte de belos campos verdes, onde aves com o seu chilrear enchem as medidas e as flores fazem o amor acontecer.

Gostaria de abraçar o mundo com o raiar de luz que anda comigo, como um amigo, fazendo renascer novas madrugadas. Mas como é possível construir a paz mundial quando se constroem muros e barreiras de arame farpado?

Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, odeia a Rússia e a China, e o senhor Joseph Borell, alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, que se pressupunha responsável, vem afirmar que o estreito de Taiwan deve ser monitorado. Por quem? Pactuando com a mediocridade, mais parecem amadores e não profissionais representando os seus países, e com salários altíssimos.

A democracia ocidental dá indício de estar ferida e ter perdido momentaneamente a noção de ética moral e política ao abrir portas a partidos políticos defensores da supremacia racial. Nunca antes visto. Partidos do arco da governação ensaiam alianças de governação como partidos de protesto.

Este quadro político desenha-se em torno do universo político ocidental, silenciando vozes moderadas e dissonantes, estas a optar como estratégia pela mudez de argumentos do que serem apontadas pelo dedo crítico do sistema. E se a guerra na Ucrânia deu novo sentido à NATO, dirigida por falcões interessados em prolongar a guerra, as tensões, tanto com a Rússia como com a China, atingiram um marco histórico, conforme assumido pelo próprio Secretário Geral da Nações Unidas, António Guterres.

O Ocidente não vai permitir, sem que haja guerra, que outros poderes se levantem impunemente em desafio ao seu pretenso poder hegemónico mundial. A guerra mundial teve já início. Falta saber de onde virá o acto irreflectido de optar pelo nuclear.


Voltar a Pena & Lápis


Voltar a Sol Português