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Entrevista com Ana Bailão:

"Sou um produto da comunidade portuguesa", diz candidata à presidência da Câmara Municipal de Toronto

Por Sérgio Mourato

Agência Lusa

A candidata a presidente da Câmara de Toronto Ana Bailão afirmou sábado (25) que "é um produto da comunidade portuguesa" e quer trazer essa marca à gestão da cidade.

"Não sou uma pessoa que entrou na política porque gosta de política. Entrei através do meu trabalho comunitário, daquilo que tudo fiz e aprendi, os valores que ganhei no meu trabalho comunitário. Sou um produto desta comunidade, sou um membro activo desta comunidade e espero que a comunidade se reveja no meu plano, que veja os serviços que pretendem ser melhorados", afirmou, em entrevista à agência Lusa.

Natural de Vila Franca de Xira (Lisboa), Ana Bailão está no Canadá desde os 15 anos afirma-se como uma mulher emigrante de classe trabalhadora, com experiência no sector privado, com uma vasta experiência como vereadora e como vice-presidente do município.

Tudo isto faz "com que possa trazer a experiência de vida e profissional em prol da cidade e da classe que está hoje em dia a sofrer", explicou, prometendo políticas concretas.

As pessoas "estão a sofrer com o impacto da inflação, como os preços da habitação cada vez mais caros, com os preços dos serviços mais dispendiosos. Temos que ter um foco muito grande na prestação de bons serviços e ter a certeza que as pessoas estão a ter o devido valor por aquilo que estão a pagar", acrescentou.

A luso-canadiana foi vereadora entre 2010 a 2022, representando o distrito eleitoral da Davenport, e mais recentemente o bairro 18, devido à reformulação dos distritos eleitorais, onde obteve perto de 84 por cento dos votos.

Cerca de 50 por cento da população de Toronto não nasceu no Canadá, são pessoas que chegam ao país à procura de "oportunidade, segurança, de uma cidade que funcione perfeitamente", recordou.

"Muitos sentem isso, senti-o quando cheguei aqui a esta cidade. Mas hoje depois desta grande pandemia a cidade está com dificuldades em voltar à normalidade e a ter a prestação de serviços que os residentes merecem e que pagam por isso", justificou.

Formada pela Universidade de Toronto em Sociologia e Estudos Europeus, desde 2010 foi responsável pela comissão municipal de habitação a preços acessíveis, tendo sido ainda vice-presidente do município durante cinco anos, até 2022.

A luso-canadiana prometeu ainda focar-se na "prestação de serviços", especialmente na "habitação", uma área em que muitas pessoas hoje em dia "sentem a dificuldade de adquirir ou de arrendar uma casa em Toronto".

Até 2031 a autarquia canadiana espera construir cerca de 281.000 novas residências, um número insuficiente devido à imigração.

"Nós temos uma situação financeira difícil, os governos federal e provincial têm-nos ajudado bastante durante a pandemia com subsídios, mas necessitamos duma solução sustentável", realçou

Uma das prioridades de Ana Bailão no seu programa eleitoral é `devolver' a gestão das auto-estradas Don Valley Parkway (DVP) e a Gardiner Expressway ao governo provincial do Ontário liderado pelo político conservador Doug Ford.

A candidata destaca ainda que o município terá de ter uma solução mais inteligente pois os residentes de Toronto "estão a pagar a manutenção destas auto-estradas através do imposto predial", o que não sucede noutras cidades da região, que são geridas pelo governo.

"O município de Toronto gasta cerca de 200 milhões de dólares por ano na manutenção e na reconstrução da Gardiner Expressway", lamentou.

Outra das questões defendidas por Ana Bailão é a segurança pública, lamentando que outros candidatos defendem um corte no orçamento da polícia de Toronto, gerida pelo município, querendo aquela força de segurança "mais formada, bem financiada" e ainda com programas de apoio à saúde mental e para os sem-abrigo.

A cidade de Toronto deverá escolher um novo presidente do município no dia 26 de Junho.

As eleições intercalares foram marcadas na sequência do pedido de demissão no mês passado de John Tory, na sequência de um escândalo, após o autarca ter confirmado ter mantido durante a pandemia um relacionamento intimo com uma ex-funcionária.


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